Série
Da produção de alimentos a remédios fitoterápicos
No segundo capítulo da série Os braços da educação federal em Pelotas, DP aborda os projetos do Campus CaVG que dão resultados na comunidade
Paulo Rossi -
Guilherme Paulus, 17, e Andrei Nunes, 16, caminham em direção à sala de aula após o intervalo. Os dois são alunos do segundo ano do Ensino Médio do Campus Visconde da Graça (CaVG), ligado ao Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul). Uma das principais consequências do anúncio do corte orçamentário das universidades e institutos federais trata-se da dúvida colocada entre os estudantes de como serão os próximos meses de suas vidas e da sua formação.
No caso do IFSul, o prazo limite trabalhado pela reitoria para o funcionamento pleno é setembro. Com isso, fica inviável terminar este ano letivo e as aulas seriam suspensas, caso a medida não seja reavaliada pelo Ministério da Educação (MEC). A instituição pode completar seus 96 anos, em outubro, de portas fechadas e com as atividades suspensas.
Os dois colegas do curso técnico em agroindústria vivem esta indefinição. Nascido em Arroio Grande, Guilherme quer seguir os estudos e ingressar na Agronomia da UFPel. Nunes, natural de Pedro Osório, visa o curso de Zootecnia. Os colegas não sabem como estarão estes planos até o final do ano.
"Desde a sétima série eu tinha um sonho de estudar aqui. Depois que eu entrei, o sonho é seguir e fazer faculdade, mas agora a gente não sabe como vai ser", relata Nunes a respeito de como planeja seu futuro e o quanto depende das instituições para seguir sua carreira. Os dois moram no campus e temem a suspensão das atividades. "Esta medida vem pra complicar nossa vida", reclama Guilherme.
Conforme o chefe do Departamento de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação do Campus CaVG, Márcio Mariot, há um clima de dúvida e angústia entre os alunos, que temem não concluir o ano dentro das salas de aula. Todos os projetos de extensão, lembra, estão ameaçados com o corte orçamentário do custeio do Instituto.
"Como vamos fazer as visitas técnicas sem recursos para combustível? Como vamos fazer os estágios obrigatórios em propriedades rurais sem transporte? Fica inviável o funcionamento", questiona o professor.
Braços na agricultura e na saúde
Mariot explica que o CaVG possui 31 projetos de extensão na comunidade. São atividades que vão da criação de uma horta orgânica e comunitária com mais de 50 pacientes do Hospital Espírita a consultorias com agricultores familiares. Projetos desenvolvidos no Asilo de Mendigos de Pelotas, no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), entre outros.
Um dos mais emblemáticos e que representa um resultado positivo é o projeto envolvendo plantas medicinais com produtores de Turuçu. No município, a instituição desenvolve um projeto que deve se transformar em uma política local relacionado à medicina alternativa. Aos produtores, o IFSul produz as mudas das plantas e capacita os agricultores como uma alternativa de renda para as suas famílias. "O corte pode suspender o projeto que representa tratamentos mais baratos para os cofres públicos. Sem a produção das plantas medicinais, a prefeitura terá de gastar mais com fármacos químicos, deixando de adquirir com os produtores locais", atenta Marcial Cárcamo, coordenador de pesquisa do CAVG.
Ele lembra que o projeto envolve bolsistas e visitas às dez famílias de produtores para orientações técnicas. "O corte, neste caso, atinge agricultores, pacientes e trabalhadores da saúde. Toda uma cadeia que se cria e pode ser suspensa", critica.
Produção com valor agregado
Uma das atividades rotineiras é o desenvolvimento de novos produtos para a agroindústria, que depois são compartilhados com empreendimentos locais. "São produtos que a gente desenvolve e depois são aproveitados e geram renda para famílias. E são materiais simples, como vidro, vinagre, sal, legumes que não teremos como comprar para criar", diz o diretor-adjunto do campus, Amauri Costa.
Oportunidades de vida
Outros projetos desenvolvidos pelo Campus são de formação continuada para professores de escolas da região e visitas de instituições de ensino para conhecer as atividades. É o caso da Feira de Ciências e Saberes, que reúne trabalhos experimentais de toda a região, além do projeto Visitando o CaVG, que leva até o local estudantes próximos da conclusão do Ensino Fundamental para conhecer os cursos oferecidos no IFSul. Há ainda projetos na área da Educação Ambiental em escolas tratando de temas como a reciclagem, a compostagem, a conservação de biodiversidade e os recursos hídricos.
Um processo seletivo criado pela própria instituição oferece bolsas de pesquisa para estudantes do Ensino Médio. A verba para pagamento de bolsas mensais tem origem no orçamento de custeio. Hoje são 120 bolsas que podem ser suspensas.
A estrutura
O campus CaVG conta hoje com 1,2 mil alunos presenciais e cerca de 2 mil em modalidades a distância. São mais de dez cursos técnicos, oito graduações, duas pós-graduações e uma especialização técnica. São ainda 88 técnicos e 120 professores atuando no local.
Demissões
Contratos de limpeza, vigilância e outros serviços hoje terceirizados devem ser os primeiros a sofrer cortes. Ao todo, são 92 trabalhadores no Campus que podem ser demitidos. "Mesmo encerrando os contratos de vigilância, que são a segurança, de limpeza, serviços imprescindíveis para o funcionamento do campus, a gente não chega aos 30%. É impraticável", avalia Amauri.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário